O lado fraco da corda da crise: o trabalhador
Nós vivemos um momento difícil no Brasil, já não é novidade falar que estamos em crise, você escuta isso na fila do banco, ao ir à padaria, em suas viagens no ônibus, nas conversas entre amigos, e pensa nela todo final de mês. Ou não? Bem, mas a questão é que a atual situação econômica do país vem refletindo em diversos setores - como saúde pública, educação, segurança - de forma negativa, e a principal vítima dessa história é o trabalhador, sim, aquela grande parcela da população que contribui para economia girar.
O trabalhador vem sofrendo de várias formas, seja com o aumento do desemprego, com as péssimas condições de trabalho, com a diminuição salarial e até com mudanças nos direitos trabalhistas conquistados com muitas lutas, como se nada fosse o bastante.
O desemprego vem assombrando várias casas brasileiras, e você nunca sabe o que é isso, até ele entrar na sua casa, pois quando ele não entra, são apenas dados. A propósito, segundo o IBGE, foi constatado que no terceiro trimestre de 2016, 11,8% dos brasileiros aptos a trabalhar estão fora do mercado de trabalho, o que equivale a cerca de 12 milhões de pessoas. Isso, nos deixa cada vez mais inseguros com relação às decisões e às políticas que o governo vem realizando economicamente, pois o desemprego não para de crescer.
E as dificuldades não param, enfrentar novamente os processos seletivos para um novo cargo não é tão fácil quanto parece, às vezes a necessidade de qualificação ou até o excesso de qualificação dificultam na contratação. Outro problema, é que muitas empresas, mesmo com o alto crescimento produtivo e com indicativos de lucro, se aproveitam da crise para demitir pessoas mais antigas com altos salários para dar lugar àquelas que, diante da situação em que estão, aceitam exercer a mesma função com um salário inferior, assim, muitas são obrigadas a se adaptarem a um novo modelo de vida com um padrão financeiro bem inferior, estagnando o desenvolvimento da sociedade.
Com a volta à procura por emprego, muitos, também, se tornaram autônomos, mas isso causou um desequilíbrio na cadeia de produção, na oferta e na procura de serviços devido à alta taxa de desemprego. Cerca de 1 milhão de brasileiros deixaram de trabalhar por conta própria no terceiro trimestre. Ter o próprio negócio não tem sido vantagem, principalmente se você não tem certo conhecimento administrativo e estratégico. A busca da carteira assinada ainda é o foco principal, apesar de dados ainda revelarem que o brasileiro realiza muitos “bicos”, pois o trabalho doméstico diário realizado por uma pessoa em mais de uma residência aumentou (o que isso revela também? Você falou em crise afetando a todos?).
Diante de tais questões, ainda é difícil entender como mesmo com todas essas dificuldades expostas o governo é capaz de promover mudanças que desvalorizam de tal forma o trabalhador. Mas é mais fácil entender, quando subtende-se que tais decisões são atreladas a decisões partidárias, diante das quais, os brasileiros não reagem mais como deveriam.
Medidas que afetam a vida de milhares de brasileiros estão sendo tomadas sem nem ao menos a abertura de um plebiscito, como a polêmica Proposta de Emenda Constitucional 241, que ao ser sancionado limitará à inflação do ano anterior os gastos com despesas públicas por 20 anos. A meu ver, este poderá evidenciar ainda mais a recessão econômica no país e o trabalhador poderá pagar mais caro ainda por isso, pois o valor do salário mínimo poderá estacionar, prejudicando quem depende de aumentos sobre ele, haverá uma certa pressão para realizar reformas como a previdenciária e trabalhista, podendo ocorrer de fato a aprovação por exemplo, da proposta de idade mínima de 65 para aposentadoria e da terceirização para todas as atividades, o que só favorece de fato o governo e o empregador. Isso, além dos cortes dos gastos da Justiça do Trabalho, na qual terá de interromper planos de abertura de novas Varas do Trabalho e criação de cargos, o que dificultará na execução dos processos trabalhistas, os quais têm como empresas litigantes as que são atualmente privilegiadas pela política econômica.
Enquanto o trabalhador sofre com a retirada de vários direitos, o privilégio à classe empresarial do país estaciona a crise, como por exemplo, a ocorrência das altas taxas de juros dos bancos, que sem controle lucra em meio à crise e endivida os brasileiros, e a permanência do mesmo valor dos impostos cobrados dos cidadãos civis sendo cobrado sobre grandes fortunas e patrimônios, o que promove uma grande desigualdade. Talvez se isso mudasse, haveria outras formas do governo arrecadar sem prejudicar o trabalhador.
Infelizmente não consigo finalizar apresentando a fórmula mágica para destituir um sistema político que influencia no modelo econômico do país, nem lhe dizer quando a crise vai acabar. Por enquanto, deixo apenas em reflexão o slogan do presidente Michel Temer, “Não pense em crise, trabalhe”, para quem sabe, a partir de então possamos lutar e votar de maneira mais consciente, pois são nesses momentos que nossas ações são capazes de transformar o nosso país em um lugar melhor, são nessas horas que tornamos mais forte o lado da corda do trabalhador.